O governo brasileiro defenderá nesta sexta-feira, na reunião ministerial do G-20, na Escócia, a adoção de um padrão único de gestão do câmbio por todas as maiores economias do mundo. Mais: pregará que o modelo escolhido seja o câmbio flutuante, que o País adota desde 1999. O objetivo é homogeneizar o fluxo global de moeda, evitando a sobrevalorização excessiva, da qual o real tem sido vítima nos últimos meses, se comparado com o dólar, o yuan e até mesmo o euro.
A iniciativa tem como alvo maior a China, que atrela a valorização de sua moeda à divisa norte-americana. As revelações foram feitas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, no final da manhã de quinta-feira, em Londres. A ideia do ministro é adicionar à proposta de framework feita pelos Estados Unidos, que incluía a regulação dos desequilíbrios comerciais e o acúmulo de reservas, o que chama de desequilíbrios de câmbio.
"Temos hoje um desequilíbrio cambial no mundo porque os países têm comportamentos diferenciados em relação ao câmbio. Alguns, como o Brasil, praticam o câmbio flutuante, enquanto outros países praticam a administração cambial", explicou. "O Brasil vai sugerir que tenhamos mais homogeneidade. Ou todo mundo pratica o câmbio administrado, ou todo mundo pratica o câmbio flutuante. O que não dá é uma parte com um sistema e outra com outro."
De acordo com Mantega, a delegação brasileira - que terá ainda a participação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles - defenderá que o câmbio flutuante seja escolhido. "Eu prefiro o câmbio flutuante, porque o Brasil já se deu mal com o câmbio administrado. Ele permite ao mercado regular melhor o fluxo de capitais."
O ministro também afirmou que o atual cenário cambial internacional, misto, "pode ser benéfico para alguns países, mas prejudicial para outros". E completou: "Neste momento, quem mais se prejudica com esse sistema são os países mais sólidos, que oferecem maiores oportunidades de investimento, de rendimento e de perspectiva de commodities", em uma clara alusão ao Brasil.
O alvo da medida é conhecido: a China. De acordo com o relatório do banco Goldman Sachs, o real se valorizou 50% frente ao yuan, a moeda chinesa, nos últimos 12 meses. "A moeda chinesa está atrelada ao dólar. Como a moeda norte-americana se desvaloriza, a chinesa se desvaloriza. Isso gera um desequilíbrio cambial", analisa. "Se a China tivesse câmbio flutuante, teríamos uma moeda mais valorizada e os capitais iriam querer migrar para lá também."
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