Os gastos do Brasil com medidas fiscais tomadas para contornar a crise econômica internacional chegam a 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, se forem somados os pacotes adotados desde o aprofundamento da situação, no segundo semestre do ano passado. A informação foi dada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em seminário no Rio de Janeiro. Segundo o ministro, os gastos brasileiros com pacotes anticrise foram um dos menores entre as principais economias do mundo. De acordo com dados apresentados por Mantega, a China gastou algo em torno de 13% de seu PIB.
A meta de superávit primário em 2010 será maior do que a deste ano, que foi reduzida de 3,8% para 2,5% por causa da crise econômica internacional. “Em 2010, voltamos à meta que tínhamos antes. Portanto, estamos fazendo uma política fiscal responsável em um ano eleitoral. Manteremos essa postura fiscal de modo a continuar melhorando as contas públicas”, disse o ministro.
O déficit fiscal do Brasil neste ano, ainda segundo Mantega, será o menor de todos os países do G-20. “Acredito que fecharemos o ano com algo como 2,2% ou 2,3% de déficit nominal aqui no Brasil”, projetou. O ministro reafirmou também que o PIB brasileiro do segundo trimestre deste ano deverá apresentar crescimento de 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado, mostrando recuperação da economia. Em termos anualizados (somando-se os últimos quatro trimestres), o aumento será de 6,47%.
Para Mantega, o Brasil já está no limiar de um novo ciclo de desenvolvimento econômico após a crise internacional, que colocou à prova várias economias, e algumas responderam melhor, outras pior. “O Brasil, felizmente, respondeu bem a este questionamento. A crise provou a solidez da economia brasileira e a capacidade do governo de fazer política anticrise”, disse o ministro. “O Brasil é um dos países que sai na frente. Foi um dos últimos países a entrar na crise e um dos primeiros a sair dela. Já estamos deixando para trás as taxas negativas de crescimento. Nossa economia teve dois trimestres de PIB negativo e já está com PIB positivo no segundo trimestre deste ano”, completou.
Segundo ele, em crises anteriores, havia fuga de capitais, e os governos elevavam as taxas de juros. Além disso, destacou, os governos passados também não tinham como aumentar os investimentos e gastos públicos. “Acabava sendo uma economia pró-cíclica. Agora temos condições de fazer o contrário, porque temos solidez externa, reduzimos nossa vulnerabilidade externa, nossas reservas internacionais já chegaram a US$ 213 bilhões. Isso dá solidez e reduz vulnerabilidade”, declarou.
Segundo Mantega, um fator importante de combate à crise foi a expansão do crédito por parte dos bancos públicos e bancos privados. Ele destacou, no entanto, que os bancos privados não expandiram tanto este crédito, aumentaram apenas 2,5%, enquanto os públicos expandiram em 5%. “Se não fossem os bancos públicos, a recuperação da economia brasileira teria sido muito mais demorada”, afirmou Mantega.
Coutinho estima que País crescerá 4% em média entre 2009 e 2012
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), Luciano Coutinho, afirmou ontem, em São Paulo, que o Brasil deverá registrar crescimento médio anual de 4% de 2009 a 2012, levando já em consideração que o PIB exibirá uma marca entre zero e 1% neste ano. Para ele, o nível de atividade do País está registrando uma adequada evolução que deve ser superior aos 4% projetados para o próximo ano na pesquisa Focus do Banco Central. “Acredito que o crescimento em 2010 está mais próximo a 5% do que 4%”, comentou.
Ele ressaltou que a recuperação da atividade deve elevar o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) da indústria para 82% ao final do ano. Segundo Coutinho, os investimentos de longo prazo devem ajudar de forma expressiva para alcançar a média de 4% até 2012. “O barril do petróleo em uma cotação pouco acima de US$ 70 consegue fazer com que a Petrobras financie os seus investimentos de US$ 174 bilhões nos próximos cinco anos”, afirmou o presidente.
Segundo Coutinho, tal aplicação de recursos pela estatal deve requerer investimentos de US$ 80 bilhões na cadeia produtiva, dado que dois terços dos bens e serviços que devem ser adquiridos pela companhia virão de empresas nacionais. Porém, o executivo ressaltou que o Brasil tem um desafio que é ampliar os investimentos de longo prazo a fim de elevar a poupança doméstica ao patamar de 25% do PIB, que será essencial para que o País cresça de 6% a 7% sem causar fortes pressões inflacionárias.
O Bndes trabalha com a hipótese de que a taxa de poupança do Brasil deve apresentar a seguinte evolução nos próximos anos, caso se concretizem os projetos de financiamento previstos. De acordo com o banco oficial, em tais circunstâncias, a poupança atingirá 19% do PIB em 2009, 19,5% do PIB em 2010, avançará para 20% do PIB em 2011 e atingiria 20,8% do PIB em 2012.
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