Seis a cada dez vagas oferecidas pelo Sistema Nacional de Emprego (Sine) no País em 2007 não foram preenchidas por trabalhadores inscritos. Entidades e organismos que atuam no segmento apontam a falta de qualificação como o problema número um a ser atacado para evitar perda de oportunidades. Ontem, em Porto Alegre, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) lançaram o Anuário do Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda, que mostra a ineficiência no preenchimento de vagas e promete ser uma ferramenta para tornar mais eficiente a colocação de trabalhadores no mercado.
O anuário, que traça o perfil do mercado de trabalho, pagamento de seguro-desemprego, oferta de qualificação profissional e programas destinados a segmentos mais vulneráveis na busca por vagas - jovens e mão de obra informal -, apresenta dados até 2007. Mesmo sem captar o recente impacto da crise financeira que provocou o desaparecimento de 650 mil postos em cinco meses no País, a economista do Dieese Lenina Formaggi aposta que as informações consolidam mudanças e avanços no setor, ocorridos desde 2004. “Aumentou a formalização dos contratos e também a proteção a quem perde a colocação”, elenca Lenina.
Outra constatação, segundo a economista, é que a mulher tem maior escolaridade, mas recebe menos que os homens. Os números mostram que no Estado o aproveitamento dos postos ficou em cerca de 40%. Em 2007, 260,5 mil pessoas foram encaminhadas pelos escritórios do Sine para entrevistas para colocação em empresas. Destas, apenas 38,8 mil conseguiram se empregar. Mais de 221 mil ficaram sem trabalho. No mesmo ano, pesquisas indicavam que 417 mil pessoas estavam desempregadas. No País, havia 8 milhões de desocupados e 4,5 milhões inscritos em Sines. Destes, apenas 818 mil conseguiram vagas. Das 2 milhões de vagas ofertadas, 1,3 milhão não foram ocupadas por inscritos no sistema público.
O chefe da Divisão de Atendimento ao Trabalhador da superintendência, Luiz Müller, acredita que a ampliação de programas de qualificação ajudará a reduzir este subaproveitamento. “A partir destas informações, os órgãos estaduais e municipais poderão identificar as deficiências e definir ações”, antecipa Müller. O chefe da divisão da SRTE projeta triplicar a oferta de vagas de qualificação em 2009 no Estado por meio de recursos do governo federal, oriundos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A meta é capacitar 26 mil pessoas, ante 9 mil de 2008. As áreas de formação envolvem construção civil, turismo e polo naval. “Temos uma situação a ser vencida: de um lado vagas para quem quer trabalhar e de outro desempregados em busca de ocupação”, reforça Müller.
A economista que integra a coordenação nacional do Dieese Lúcia Garcia alerta que é necessário vencer dificuldades de articulação entre os diversos organismos envolvidos na captação e formação de mão de obra. Lúcia avalia que o conhecimento sobre o perfil dos trabalhadores e demandas de trabalho ajudará a direcionar as políticas de emprego. “É necessário agir nas causas que levam a uma certa acomodação.”
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